quarta-feira, 5 de julho de 2017

N2, Estrada Nacional 2

738.5 kms. é a distância entre Chaves e Faro pela Estrada Nacional 2, a maior de Portugal e a única a atravessar o País de Norte a Sul. 

A data escolhida foi 10,11 e 12 de Junho de 2016, contando para isso com duas motas, uma Inglesa, Triumph Tiger 1050 do António Viegas e uma Japonesa, Yamaha MT-09 Tracer do Carlos Tavares. Uma dupla já com muitas viagens feitas em conjunto, o que permitiu organizar esta viagem de forma fácil e simples. O primeiro dia seria para chegar a Chaves com o ponto de encontro em Samora Correia, com passagem em Tomar, Serra da Estrela e Vila Nova Foz Coa, com a chegada a Trás os Montes já pelo fim do dia. Sábado seria para partir cedo do km.0 da N2 em Chaves e ir descendo com as diversas paragens sem pressas, até ao anoitecer. No último dia o objectivo era chegar a Faro, e regressar a Lisboa, também fora das AE's ou vias rápidas.
A N2 que liga Chaves a Faro num percurso vertiginoso pela espinha dorsal do País atravessa 36 Munícipes, com passagem nas seguintes localidades:
Chaves - Peso da Régua - Viseu - Santa Comba Dão - Penacova - Vila Nova Poiares - Castanheira de Pera - Pedrógão Grande - Sertã - Vila de Rei - Abrantes - Ponte de Sôr - Mora - Montemor-o-Novo - Torrão - Ferreira do Alentejo - Aljustrel - Almodôvar - São Brás Alportel - Faro

A viagem começou pela manhã no marco, bem situado, do km 0 desta N2, foto da prache e toca a seguir caminho nas duas motas já atestadas no dia anterior. Os primeiros quilómetros são para apreciar todos os montes desta zona lindíssima, não estivéssemos nós nos Trás os Montes, bom asfalto, temperatura amena nesta altura do ano, pouco ou nenhum trânsito, condições ideais para a prática do Motociclismo. Até ao Peso da Régua, altura que completámos os primeiros 100 kms. desta longa estrada, não podia ser melhor, paisagem maravilhosa num intenso e imenso verde, estrada revirada com curvas e contracurvas sempre com um piso em óptimo estado. No Peso da Régua, paragem obrigatória junto ao rio Douro, aqui nota-se a presença de muitos turistas e claro motas que também andam a percorrer a N2, nada que nos impeça de tirar umas bonitas fotografias com fundo o rio, as pontes e claro as vinhas nas encostas.
 

Seguindo, no percurso divertido e revirado que nos ia mostrando o aumentar de kms. através dos marcos à beira da estrada, próximo destino e paragem Lamego com a obrigatória visita ao Santuário de Nossa Sra. dos Remédios, no topo do monte de Santo Estêvão, senão fosse pelas imponentes e fabulosas estruturas, colunas e escadas em pedras, só o caminho empedrado numa autêntica floresta até ao topo do monte já tinha valido a pena este pequeno desvio.
















Com a chegada a Viseu já depois do meio dia, foi hora de almoçar, e nesta zona de Portugal, as refeições são servidas em doses exageradamente grandes, mas a andar de mota tantas horas não convém descurar esse aspecto, claro que alcool em nível 0.
É depois de Viseu no caminho para Santa Comba Dão e Penacova que as indicações da N2 são difíceis de encontrar, coisa que até agora não tinha sido problema, as placas insistem em nos colocar no IP2, e além de nós via-se mais motociclistas um pouco perdidos também, com a requalificação que anda em curso nesta N2, creio que será uma das zonas a ter em atenção. Mas lá fomos conseguindo apanhar o rasto da mítica estrada que foi um grandes projectos do Estado Novo, a partir de 1930 começaram a ser alcatroados troços de pedra e terra, até que em 1944 é inaugurada, quem diria que passados 72 anos está para se tornar numa rota turística.
Circundando o rio Mondego vamos passando por Penacova, as paisagens continuam a ser deslumbrantes e apetece parar a cada minuto para levar um retrato fotográfico para mais tarde
recordar.


Vila Nova de Poiares, Pedrógão Grande com a majestosa Barragem do Cabril onde se vê já as novas bandeiras amarelas que estão a ser colocadas para indicar o km da N2,
Sertã onde aproveitámos para uma paragem à beira rio com a ponte Romana a nos fazer a delícia do olhar, Vila de Rei, onde alcançarmos o Centro de Portugal no ponto geodésico.
Abrantes onde nos cruzamos com o rio Tejo, pelas 18 horas estávamos em Ponte de Sor com 420 kms. feitos nesta maravilhosa N2, altura para jantar nas habituais bifanas e marcar o alojamento para esta noite, local escolhido Ferreira do Alentejo, após um telefonema com a confirmação de quarto disponível, e estômago aconchegado faltam 130 kms. até ao merecido descanso. Montargil, Mora, Montemor o Novo, aqui também a indicação da N2 se perde, mas com o nosso bom sentido de orientação já apanhámos o rasto sem grandes desvios, Alcáçovas, entretanto a noite caiu, passagem por Torrão com foto na bonita iluminada Igreja da terra e chegada a Ferreira do Alentejo pelas 22 horas, com 580 kms. feitos com tudo a correr como planeado, algum cansaço, mas sempre boa disposição.




A dormida foi no Pátio das Flores, um agradável alojamento local, com os donos, um casal simpático, sempre disponível para que nada nos faltasse, até as motas ficaram no bonito pátio interior da casa.
Domingo, mais um acordar cedo com o normal entusiasmo de quem anda e viaja de mota. Pequeno almoço tomado à conversa com os donos da casa, hora de abastecer as máquinas e tomar novamente a estrada que nos trouxe até aqui, Faro está já a 140 kms. de distância.









 N2, a única estrada que atravessa Portugal de Lés a Lés.

Estamos no Alentejo, tudo é seco em tons amarelos e nesta fase as longas rectas começam a aparecer, isto até entrarmos em território Algarvio porque depois de Almodovar entramos na Serra do Caldeirão e são mais de 50 kms. de curvas bem apertadas, com raides que nos transmitem segurança com a protecção inferior instalada a pensar em nós e outros que também andam de mota. Paragem obrigatória no miradouro do Caldeirão, mais uma sessão fotográfica e a chegada a Faro em breve se fez com os 738.5 kms. feitos nesta magnífica experiência. O registo fotográfico junto do marco final bem como da placa, recentemente inaugurada pelos dois Presidentes de Câmara das duas Cidades, que indica a direcção Chaves, foram tiradas. Uma paragem na Ilha de Faro e o regresso a Lisboa pela estrada Nacional para não estragar toda a magia que tiveram estes três dias.


Album de Fotos

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Yamaha TRACER 900, um Ano e 10.000 kms. em teste

Foi em Janeiro de 2016 que decidi comprar a Yamaha Tracer 900, novidade do ano anterior da marca Nipónica, que apresentava neste novo ano uma nova cor, Mistral Grey, que depressa me seduziu. Com um preço simpático em relação á concorrência, um aspecto moderno e agressivo, bastante electrónica disponível de série e ainda extras com preço razoável, fizeram com que esta Yamaha tivesse á partida tudo para ser a minha segunda opção, já que a primeira continua a ser a intocável XT1200Z, e até porque precisava de ter uma substituta á altura da saudosa Suzuki V-Strom 1000, que me acompanhou durante 9 anos e quase 100.000 kms.                                                                                                                  
  A mota foi entregue no final de Janeiro no concessionário de Sintra, no Algueirão, onde à um ano atrás tinha tido o primeiro contacto com esta mota e que me cativou bastante. Saiu do stand com os seguintes extras da marca, banco confort, punhos aquecidos controláveis no painel digital com três níveis de 0 a 10 de intensidade, malas semi rigídas com suportes extractíveis e autocolante protector de depósito. Preço final, perto dos 11.000€               

Sendo uma segunda opção, a Tracer foi usada neste primeiro ano só em deslocações diárias para o trabalho, cerca de 50 kms., pequenos passeios de fim de semana e nalgumas viagens de um ou dois dias, maioritariamente  em estradas nacionais, evitando ao máximo vias rápidas ou auto-estradas. É aqui que esta mota se evidencia pela resposta pronta do tri cilíndrico de Iwata em qualquer regime de rotação, ainda para mais tendo disponível três modos de potência, o STD para uso normal, o A quando se quer ter toda a cavalagem em resposta ao punho direito e o B, mais comedido, recomendado para piso molhado ou sujo. De salientar que os 10.000 kms. foram feitos a solo, sem pendura, bastantes vezes com malas carregadas e sempre com o controle de tracção ligado.
O maior trunfo desta Yamaha é mesmo o motor e o som que sai dele através do bonito mas de discutível gosto escape curto de saída lateral, motor elástico, disponível, suave e poderoso, faz-nos sentir que temos sempre resposta, seja em alta, média ou baixa rotação, pena que o conjunto não acompanhe, já que a instabilidade da mota a partir dos 180 kms./hora é bem notória com o abanar do guiador, só nos resta mesmo ficar por aí e esquecer o que este Tri tem ainda para oferecer. Além de que não se percebe o porquê de tanta trepidação a nível de guiador e pousa pés, a falta de borracha nestes é uma lacuna imperdoável nesta mota, principalmente no condutor mas também no lugar do pendura. E é nos pousa pés que fico com a dúvida se alguém se sentou na mota depois de concebida, a menos que tenha um pé minúsculo, no pedal direito à conta do ferro protector de calor do escape não é possível manter o pé direito, se numa utilização curta ou desportiva não incomoda, tentem fazer 200, 300 kms. directos ou 5 ou 6 horas de condução com o pé inclinado para baixo, além de desconfortável é irritante. Mas contudo não deixa de ser uma mota interessante, já que o conjunto mostra-se bastante leve e maneável em estradas sinuosas e reviradas com curvas mais ou menos apertadas, diversão aqui é uma constante.
Segundo o computador de bordo, bastante completo por sinal e totalmente digital, com toda a informação necessária, intensidade de luz regulável, programável, o consumo nesta primeira dezena de milhar de kms. foi de 4.5 lts. aos 100, conforme indica o computador de bordo, se tivermos em conta uma autonomia superior a 300 kms. graças ao depósito de 18 lts. temos aqui uma forte candidata a grandes tiradas seguidas. Consumo bastante aceitável, mas a ter em conta que não houve auto estrada, nem pendura e o modo de condução foi dividido entre STD e A, nota positiva neste aspecto para esta MT-09 com carenagem.
A posição de condução é descontraída, com guiador largo, faz-nos sentir não inseridos na mota, mas sim numa posição alta de controle, mais ao nível de uma Supermotard, o banco do condutor é regulável em duas posições e separado do traseiro, a opcção do banco confort, cerca de 300€ penso fazer toda a diferença, não sendo uma referência, permitiu fazer num dia mais de 800 kms. e em mais três cerca de 600, sem apresentar queixas nesse aspecto. A protecção aerodinâmica também não compromete, o ecran original de forma algo estranha satisfaz minimamente, e é regulável em altura num sistema manual de alguma fragilidade, para os mais exigentes opções maiores quer na marca como fora não faltam.

De série a Tracer 900, traz descanso central, controle de tracção de apenas um nível que se desliga através de um botão existente no painel, modos de potência, ABS, luz led que apesar de em médios só acender uma óptica mostra-se totalmente eficaz e é  regulável manualmente através de dois botões no interior da carenagem frontal, e outros pormenores interessantes, como suportes para as malas discretos, acabamentos em carbono e jantes de 10 raios.
Ainda como ponto positivo, aponto a caixa de velocidades, precisa e rápida com uma embraiagem macia, trocar mudanças é um prazer constante nesta mota. A travagem não compromete, mas não merece ser elogiada, bem como as suspensões, algo rija na traseira apesar de ter afinação, e macia na frente, e falo da configuração que traz de fábrica, acredito que afinada por alguém que perceba possa ser criado uma estrutura mais confortável ou mais desportiva, conforme a vontade do dono.
Mas nem tudo correu bem com esta Tracer, sendo um fan incondicional das motas "made in Japan" houve alguns pormenores que me desiludiram. Se nunca me deixou apeado, alguns acabamentos fracos são por demais evidentes, e não é por ser mais barata que a concorrência que aceito facilmente certas coisas na mota. Sabia á partida que não teria suspensões ou travagem ao nível de uma Versys 1000, V-Strom 1000 ou VFR800X, em que os 3.000€ que custam a mais me fizeram optar pela Yamaha, mas não esperava ter tanto aborrecimento com a mota, mesmo apesar da disponibilidade do Concessionário para as resolver, podiam ter sido evitadas se houvesse mais cuidado na construção e outra escolha de materiais por parte da fábrica.
Os plásticos debaixo do banco apareceram de ambos os lados partidos a meio, trocados e resolvido na garantia, ferrugem nos dois apoios dos espelhos, também trocados nos primeiros meses.
No amortecedor traseiro apareceram vários pontos de ferrugem logo no início, prontamente trocado após reclamação.
O painel digital em dias de chuva ou humidade, e até quando é lavada embacia, tal como os piscas.
A carnagem lateral está desencaixada da frontal, com a utilização e normal vibração tem aumentado a distância, segundo o stand que vendeu a mota não há solução, dizem ser normal, mesmo ter sido reclamado logo desde inicio quando a margem de diferença ainda era pouca, o que se veio a agravar cada vez mais.


Os pneus Dunlop Sportmax D220 que equipam esta Tracer nas medidas 120 á frente e 180 na traseira ambos em jante de 17"  com 10.000 kms. além de apresentarem um desgaste considerável, principalmente o de trás, a nível de aderência não inspiram a mínima confiança, no molhado então é preciso atenção extra. Uma péssima escolha da marca para este modelo.

O amortecedor em cima a apresentar vários pontos de ferrugem, já substituído ao abrigo da garantia da mota como na foto ao lado. Ferrugem essa que também apareceu nos espelhos, substituídos ao abrigo da garantia. Os símbolos da marca acrílicos colados no depósito começaram a ficar manchados, queixa já bastante conhecida de outros proprietários.
A instabilidade da mota a alta velocidade é incompreensível, impossível de andar acima dos 170/190 kms./hora, a frente abana de uma forma impressionante , a marca já apresentou a outros clientes a desculpa de usar malas e ecrans sem ser de origem, aqui não acontece isso, é tudo original, com ou sem malas o resultado é o mesmo, abanar da direcção seja em dias ventosos ou não. Tal como a brusquidão do acelerador, principalmente no modo A (mais desportivo) a baixa rotação também era dispensável, requer alguma habituação. A travagem, apesar de satisfazer é algo macia, um pouco mais de eficácia não lhe caia nada mal.


Custos em 10.000 kms.
- Revisão 1.000 kms. - 62€ no Concessionário do Algueirão, ( oleo e filtro )
- Furo e Lavagem - 30€
- Revisão 10.000 kms. - 120.23€ no Concessionário do Algueirão ( óleo de motor, afinações e 3 horas de mão de obra )
- Seguro - 83.14€
- Imposto Único Circulação - 124.06€

A questão é!  Vale a pena comprar? Voltava a optar pela Tracer 900? 
Convém lembrar que as alternativas de opção que tive em conta além desta Yamaha, e eram as minhas preferidas para substituir a mítica V-Strom 1000, minha saudosa e grande companheira de viagem durante bastantes anos, eram Suzuki V-Strom 1000 na última versão, Honda VFR800X, Kawasaki Versys 1000 , as três a rondar os 14.000€ contra os 11.000€ da Yamaha Tracer 900, e estes valores são com nível de equipamento semelhante, com mais ou menos desconto.
Se a Yamaha ganha no visual, pessoalmente acho-a linda, principalmente neste esquema de cores, e no preço imbatível, perde nos "pequenos" problemas que apresentou logo nos primeiros meses de uso, mesmo sendo a maior parte resolvidos pela marca, não deixam de criar alguma desconfiança sobre a qualidade da mota.
Caso o tempo voltasse atrás, teria que repensar muito bem a escolha e muito possivelmente um investimento maior numa mota com nível de qualidade de fabrico e acabamentos superior, com travagem e suspensões melhores, perdendo a dinâmica e diversão na condução que esta Tracer sempre me deu, podia ter uma alternativa mais ponderada.
Se vale a pena comprar a Tracer? Pelo preço e equipamento de origem sim, e até acredito que muitos clientes nem exijam tanto dela nos pormenores, como eu.
Ao fim de treze meses e após a primeira revisão a sério (10.000 kms.) decidi abandonar, vendendo a Tracer para outra pessoa. Foram demasiadas chatices e com o preço absurdo da manutenção, tendo em conta o que pretendia andar nesta mota, não estavam criadas as mínimas condições para seguirmos juntos.













 Avaliação de 0 a 10

Suspensão - 6

Desempenho - 7

Consumo - 10
Conforto - 7
Caixa de Velocidades - 8
Protecção Aerodinâmica - 6
Motor - 9
Travagem - 7
Preço - 9
Visual - 9

                                               Média : 7.8 


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